Os vinhos da minha ceia de final de ano

 

Por Ricardo Bohn Gonçalves

É inevitável: todos nós que trabalhamos com vinho recebemos inúmeras consultas sobre que garrafas sugerimos para as festas de final de ano. Eu mesmo poderia aproveitar este espaço para indicar vários rótulos da RBG Vinhos (e temos mesmo bons rótulos se você quiser as nossas indicações), mas resolvi contar aqui um pouco da minha experiência em escolher meus vinhos para as ceias.

O menu para o dia 24 de dezembro já está definido. Na noite de natal, teremos nozes e castanhas como aperitivos; polvo de entrada e bacalhau como prato principal. Depois serviremos queijos. A sobremesa é a tradicional rabanada. Estou bem feliz com este cardápio: gosto de receitas mais leves para os jantares e não gosto muito das clássicas receitasnatalinas nesta época do ano. Peru, tender e pernil são deliciosos, mas também muito gordurosos e, na minha opinião, combinam mais com o natal do hemisfério norte. Prefiro estas receitas em bons almoços no nosso inverno.

Em casa, vamos começar com um champanhe, que também poderia ser um bom espumante. Há uma tendência de se consumir os vinhos espumantes ao longo do ano, e não apenas nas festas, o que eu concordo. Mas isso não quer dizer que as grandes comemorações não peçam espumantes. As borbulhas combinam com a data.

Para o polvo e o bacalhau vou abrir um branco, provavelmente da região de Vinhos Verdes, e também um tinto leve, que sempre tem aquele convidado que prefere tinto. Eu acho ótimo bacalhau com Vinho Verde. Uma vez, eu estava em Portugal, almoçando com um grupo de dez português. Eu era o único brasileiro e perguntei o que pedir com o bacalhau que iríamos comer e eles ficaram 20 minutos discutindo a harmonização, com brancos e com tintos, sem chegar a qualquer conclusão. Após este tempo, eu interrompi e disse: vocês já têm a resposta. Se após 20 minutos vocês não chegaram a uma conclusão é porque não há consenso mesmo. E eu posso fazer a combinação que eu acho mais interessante no momento, seja com branco ou com tinto.

Para terminar a ceia, vou abrir um Pedro Ximenez, o estilo mais doce de jerez. O PX, como o chamamos, é, na minha opinião, a combinação perfeita para as rabanadas.

Mas a minha ceia é pequena, com um número reduzido de pessoas. Quando a comemoração é maior, eu acho que um bom caminho é apostar em vinhos mais genéricos, que vão agradar e dar segurança para um número maior de pessoas. Nem sempre dá para oferecer um vinho de uma uva que poucos conhecem. É melhor escolher um vinho que agrade o gosto médio dos convidados. E nisso um sauvignon blanc ou um chardonnay chileno ou argentino pode ser uma aposta segura.

O mesmo nos tintos. É melhor escolher um malbec argentino do que um vinho de pequena produção na Alemanha por exemplo – sim, os tintos alemães, principalmente o elaborado com a spätburgunder, que é a pinot noir, vem se destacando, mas o Natal não é hora de colocar o vinho no centro das discussões. Tem sempre o risco de o seu convidado se assustar com o rótulo ou o nome do vinho. Melhor ir na aposta certeira.

No réveillon, a ceia não está definida, mas devo seguir o mesmo princípio. Apostar em um bom espumante, para fechar bem o ano, e em brancos e tintos mais leves. Mas aqui devo abrir dois espumantes: um de aperitivo e outro a meia noite. Certamente deixarei o melhor para o início do jantar, quando temos a chance de prestar melhor atenção ao que temos na taça. Para o brinde da virada do ano, será um bom espumante,

Espero que estas dicas te ajude na sua escolha. E ótimas festas!