Malbec, a mais revolucionária das uvas

RBG Vinhos

 Por Ricardo Bohn Gonçalves
 
Gosto de definir a malbec como a mais revolucionária das uvas. Ou não foi uma revolução o que ela fez na história dos vinhos argentinos? Na Europa, ela era uma uva muito secundária em Bordeaux, que entrava em pequenas porcentagens em alguns dos seus vinhos. Fazia um pouco mais de sucesso na vizinha Cahors, de onde é originária, mas dava origem a vinhos rústicos, pesados. Enfim, não brilhava, e seu futuro não era muito promissor.
 
Sua história começou a mudar quando o governo argentino decidiu investir na qualidade dos seus vinhos, em meados dos anos 1850. No dia 17 de abril de 1853, foi apresentado o projeto da Província de Mendoza de ter uma quinta e uma escola de agricultura para ensinar seus produtores a elaborar vinhos melhores. No mesmo ano, o agrônomo francês Michel Aimé Pouget, que assumiu a gestão desta quinta, trouxe as mudas de malbec para o país. Pela importância que esse projeto teve para os vinhos argentinos, a data de 17 de abril acabou se tornando o Dia Internacional da Malbec mais de um século depois.
 
Quis o destino (ou a competência de Pouget) que a malbec se adaptasse bem ao seu novo terroir. Na França, quando as mudanças climáticas ainda não tinham mudado as estações do ano, não havia horas de sol suficiente para a variedade amadurecer completamente. A malbec apenas amadurecia a ponto de revelar o seu potencial uma vez, às vezes duas vezes por década. Na desértica Mendoza, sol e pouca água eram a realidade que a variedade pedia. Havia tempo suficiente para a sua completa maturação, revelando notas de frutas vermelhas e um floral, que não apareciam em solo francês.
 
Assim, quando surgiu um movimento na Argentina em busca de vinhos de qualidade, no final do século passado, a malbec estava pronta para brilhar. Ela já havia se adaptado ao clima e solo local, já tinha dado origem a vinhas centenárias. Só bastava enólogos que soubessem olhar para a variedade com os olhos dos vinhos de qualidade. Estes primeiros malbecs ganharam um perfil de tintos encorpados, muitas vezes alcoólicos, mas com muitas notas de frutas vermelhas e negras, e um dulçor, que encantava os bebedores de vinho. Foi um sucesso.
 
Mantendo a sua revolução, a malbec não se contentou com esse perfil. Na última década, principalmente, ela passou a dar origem também a tintos mais elegantes, equilibrados. A fruta muito madura deu lugar a notas frutadas mais frescas; o teor alcoólico baixou um pouco, com a colheita mais precoce, tornando seus exemplares mais gastronômicos. E o uso farto de barricas de carvalho francês foi reduzido para a fruta melhor se revelar, em seus aromas e sabores.
 
Ao mesmo tempo, muitos de seus vinhos alcançaram um novo (e questionável) patamar de preços. Há bons custo-benefício, é certo, e muitos destes exemplos, nós procuramos trazer aqui. Mas há também alguns rótulos com preços acima dos R$ 2 mil, R$ 3 mil, mostrando também um exagero nos preços.
 
Por fim, o brilho da malbec valorizou, e muito, as vinícolas argentinas. Um exemplo é que a Catena Zapata ocupa o segundo lugar na relação das vinícolas mais admiradas do mundo.
 
É, assim, a revolução da malbec. E isso vale um brinde (ou vários) com a variedade neste mês em que se comemora o Dia Internacional da Malbec.




________________________________

COMO COMENTAR
  • No espaço de Comentários abaixo, você encontrará a opção: Comentar como:
  • Clique na seta que se encontra ao lado de Anônimo 🔽
  • Você terá 3 opções:
    • Comentar com a sua Conta do Google: utilize sua conta @gmail.com
    • Comentar sem identificação: Anônimo
    • Comentar Nome e URL: se preferir, preencha somente seu nome e deixe URL em branco e clique em Continuar
________________________________

Comentários

Postar um comentário