O vinho nas mudanças climáticas

RBG Vinhos


Por Ricardo Bohn Gonçalves
 
A tragédia do Rio Grande do Sul colocou o tema da mudança climática em destaque, e isso incluiu o mundo do vinho. Os dados ainda não são oficiais, mas sabe-se que mais de 250 hectares de vinhedos foram destruídos pelo desmoronamento de terra na Serra Gaúcha. E o enoturismo também foi seriamente comprometido, depois que a chuva inundou aeroportos e destruiu pontes e estradas, dificultando o acesso à região.
 
O cenário gaúcho, infelizmente, não é uma exceção nas catástrofes que vêm atingindo os vinhedos. Aqui no hemisfério sul, são as chuvas em volumes muito maiores que o esperado e fora de época que vem afetando (não apenas) os vinhedos. Por outro lado, quando a água não aparece quando tradicionalmente caia na Serra Gaúcha, as safras tiram partido dos longos dias de sol e registram uvas de maior qualidade. Foi exatamente as chuvas que não caíram no início de janeiro de 2018 e de 2020 (na Serra Gaúcha os primeiros meses do ano são chuvosos) que levaram à maior qualidade dos brancos e tintos da região.
 
Mas há outras mudanças do clima, que vem atingindo a viticultura. A que tem mais preocupado os viticultores, principalmente os europeus, são as geadas da primavera. A França parece ser o país que mais sofre com isso, mas não é o único. A cena mais conhecida das geadas são os vinhedos todos iluminados com tochas durante a madrugada.
 
Na foto, é uma paisagem linda, típica de cartão postal. Mas na realidade é um desespero do produtor. Explica-se: as videiras começam a brotar na primavera, animadas com a subida de temperatura. Mas logo vem uma frente fria, capaz de congelar os brotos, ainda desprotegidos. O resultado é catastrófico: depois de descongelado, dificilmente ele segue brotando, reduzindo sensivelmente a produtividade da planta. Aos produtores, cabe recorrer ao fogo como última esperança que, ao aumentar a temperatura do vinhedo, as plantas não congelem.
 
As geadas de primavera eram raras até recentemente. Hoje frequentes, elas são o principal temor dos viticultores. Em 2021, por exemplo, o governo francês chegou a declarar desastre agrícola tamanha a sua intensidade.
 
Outro fenômeno ligado às mudanças do clima são os incêndios. Aqui, Australia e Estados Unidos parecem ser os campeões deste fogo incontrolado, que atinge também os vinhedos. O fenômeno vem acontecendo no segundo semestre do ano e o fogo propaga facilmente pelo clima muito seco e a ausência de água.
 
O prejuízo é enorme e o fogo não atinge apenas os vinhedos, mas toda a zona rural e, não raro, as pequenas cidades. E se as geadas trazem transtornos para a próxima safra, incêndios e desmoronamentos de terra, como o que aconteceu neste início do ano no Brasil, estendem o prejuízo por anos. A vinha depois de replantada precisa, nas estimativas mais conservadoras, de pelo menos três anos para voltar a dar os seus primeiros frutos.

Comentários

  1. Anônimo26/5/24

    Ricardo excelente relato da catástrofe climática. Urge termos papel importante, como todos sabemos. Mas vejo projetos e projetos e pouca pressa em implantação. E justamente precisamos de pressa !

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  2. MARIO LUIZ FERREIRA DE MELLO SANTOS26/5/24

    Ricardo, muito bom o texto desenvolvido pro vc. Para desconhecedor do tema, viticultura, como eu, sempre é bom ter alguém elucidando o assunto para puros bebedores de vinho como eu. Abraços.

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  3. Vinicius Toledo26/5/24

    Bom domingo a todos! Sabemos que grandes catástrofes ainda estão por vir, o pior ainda não veio. Porém a grande questão é saber o quanto o mundo do vinho será impactado com o que virá, isso ninguém ainda sabe responder. A verdade é que a humanidade pagará um alto preço por ter vilipendiado este lindo planeta! Será que os preços dos vinhos irão subir exponencialmente daqui a alguns anos?

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