Por Ricardo Bohn Gonçalves
A minha paixão pela Borgonha é conhecida, e os seus brancos e tintos estão entre os grandes responsáveis por eu apreciar tanto essa região. Isso significa gostar muito da pinot noir, a variedade que dá origem aos grandes tintos locais, e valorizar a sua sútil elegância (e também da chardonnay, em seus brancos, mas isso é assunto para um próximo artigo).
A pinot noir é uma uva conhecida por dar origem a tintos que parecem leves, em um primeiro momento, mas depois vão se revelando em vinhos de grande complexidade e com muitas camadas de aromas e sabores na taça. São totalmente adaptados à essa região francesa, desde os estudos e experimentos dos monges cistercienses ainda na Idade Média. A cada safra, os religiosos acompanham e anotavam o desenvolvimento das vinhas, em um trabalho exaustivo, mas que rendeu bons frutos.
Mas foi nos inícios dos anos 2000, mais exatamente em 2004, com o filme Sideways, que a uva se tornou conhecida dos consumidores. Na comédia romântica, o anti-herói Miles Raymond (interpretado por Paul Giamatti) é um defensor da variedade em resposta à conhecida merlot (se você ainda não assistiu essa película, eu recomendo fortemente). O filme fez tanto sucesso que colocou os Estados Unidos no ranking dos países que mais elaboram vinhos com a pinot noir, desbancando a Alemanha da vice-liderança. A França, claro, é a líder absoluta.
Com esse sucesso, muitas vinícolas, até algumas da própria Borgonha, passaram a estampar o nome pinot noir em seu nome nos rótulos. Antes, isso nem era necessário. Os consumidores de Borgonha sabiam que os tintos eram sempre elaborados com a pinot noir e, com algumas exceções, com a gamay.
Outra característica é que a variedade não gosta muito de viajar e revela a sua melhor adaptação na Borgonha, com todas as suas sutilezas. Em exemplo é que a pinot noir de Pommard é mais potente, enquanto em Nuit-Saint-Georges ela é mais delicada, o que não quer dizer simples ou com pouca complexidade, muito pelo contrário.
Mas como fã confesso da pinot noir, acompanho feliz a variedade conquistar, cada vez mais, novos terroir. Primeiro na própria Alemanha, local que a crítica inglesa Jancis Robinson vem chamando atenção para a qualidade da uva e, claro, dos vinhos. Ainda não é fácil encontrar grandes pinot noir alemães no Brasil ou spätburgunder como a uva é chamada por lá. A maioria que eu tenho degustado recentemente são garrafas gentilmente compartilhadas por amigos que visitaram o país. E, confesso, venho me surpreendendo cada vez mais com a sua qualidade. Cito dois exemplos, o Wasenhaus e o Koehler-Ruprecht.
A Nova Zelândia também vem me surpreendendo pela complexidade que consegue imprimir na variedade. O melhor exemplo são os vinhos da Rippon, que sempre são destaque aqui na RBG Vinhos. Gosto também dos tintos da Burn Cottage Vineyard, que segue o cultivo biológico. O Oregon, ao menos por enquanto, é o terroir norte-americano que mais me surpreende com a pinot noir, e um dos produtores que admiro é o William Salem.
O interessante é que vem aparecendo outros bons exemplos em regiões que, até recentemente, eu achava impossível encontrar bons vinhos com a variedade. Eram pinot noirs sempre muito extraídos e sem as boas sutilezas da variedade. Um exemplo é a chilena Falernia, que tem no Aaron Gran Reserva Single Vineyard, um belo exemplo de pinot noir. No Brasil acompanho feliz o sucesso dos pinot noirs elaborados pela Serena e pelo Atelier Tormentas, do polêmico marco Danielle.
Comentários
Excelente artigo. Meus preferidos vinhos da Borgonha. Abracos
ResponderExcluir👍boas dicas. Minha uva preferida
ResponderExcluirRicardo, ótimo texto sobre essa uva tão querida, a Pinot Noir! Queria só destacar um vinho chileno com essa uva que tomei uma vez e que me impressionou, acredito não estar à venda no Brasil, é o Clos des Fous Pucalan Arenaria Pinot Noir, faz inclusive outros vinhos com essa uva, mas esse me pareceu o mais impressionante desta vinícola.
ResponderExcluirBelo texto, Ricardo. Pinot noir é uma paixão plena de mistérios e nuances compartilhada aqui também. E temos novas gerações de bourguignons que propõem ótimos pinot noirs mais acessíveis aos mortais.
ResponderExcluirInteressante, aprendi coisas novas,
ResponderExcluirParabéns, Ricardo.
ResponderExcluirSeus textos são tão saborosos como a Pinot Noir ; fora da Borgonha ,como você bem mencionou , tenho muito apreço pelos PN da Nova Zelandia e do Oregon .