Provar vinhos de safras do início e até de meados do século passado é uma oportunidade cada vez mais rara (e é difícil escrever sobre isso sem parecer arrogante....). Aqui, dependemos da generosidade de amigos, daqueles que guardaram as garrafas com cuidado, muitas vezes por décadas, em ambientes protegidos, de preferência climatizados e no abrigo da luz.
São raridades que estes amigos adquiriram ao longo da vida e que, em um certo dia, decidem compartilhar com os seus amigos. Em geral, são garrafas compradas direto do produtor, em leilões ou em en primeurs, prática comum dos negociants de Bordeaux, quando pagamos 50% logo depois do lançamento da safra e o restante quando o vinho chega ao mercado alguns anos depois. Quase impossível encontrar estas garrafas a venda em uma loja de vinhos, ainda mais no Brasil.
Nestes últimos dias, devo agradecer por ter bons amigos e poder repetir a máxima de quem tem amigo tem tudo. Em duas oportunidades recentes provei grandes vinhos, de grandes anos. Tive a oportunidade de degustar Bordeaux e Barolos dos anos 1970 e Borgonhas de décadas ainda mais distantes. Teve Morey-Saint-Denis da safra de 1950, Nuits- Saint-George de 1936 e 1938. Mas o maior destaque foi um Chambertin 1916, com o rótulo tão degastado que nem dava para ler o nome do produtor.
Degustar estes vinhos é um aprendizado. Não apenas de treinar abrir a garrafa – aqueles saca-rolhas que parecem uma pinça grande são essenciais para evitar acidentes com as rolhas –, mas também de degustação. A primeira dica é conferir se o vinho está ou não avinagrado. Passando neste teste, é se permitir apreciar a bebida. Lembro que um dos meus amigos generosos elogiou os meus comentários dizendo que se não estivesse ali, eles achariam que o vinho estava estragado e jogariam essa joia líquida no lixo. Que bom que fui útil!
Safras antigas são muito diferentes dos vinhos mais jovens que estamos acostumados a provar. Primeiro, elas não têm as notas frutadas nos aromas. São vinhos que têm um toque de oxidado e trazem o que chamamos de bouquet, que são as notas de evolução, como frutas secas, tabaco, algo terroso, entre outras.
Este líquido também não têm a cor exuberante, nos tintos, ou clarinhas, nos brancos. Com o tempo, brancos e tintos tendem a se igualar na cor, com os primeiros ficando mais escuros e os segundos mais claros. A acidez, que é aquela sensação de frescor no paladar, se mantém com a evolução da bebida. Mas a sensação do álcool diminui muito com o longo estágio na garrafa.
Os aromas se encontram. Se é possível diferenciar claramente um Bordeaux, de um Nebbiolo ou de um Rioja quando jovens, o mesmo não acontece quando estes rótulos já ganham muito tempode vida na garrafa. Eles quase que se equivalem e fica cada vez mais difícil reconhecer a sua origem.
Gosto de comparar vinhos jovens e velhos com a estopa e o papel japonês. Os brancos e tintos de safras mais recentes podem ser rústicos, encorpados, resistentes, como a estopa. Mas os antigos têm a fragilidade de um tecido de papel japonês, daqueles que se assoprar desmancha. Mas são lindos, delicados.
Uma experiência dessas é inesquecível!
ResponderExcluir:-)
ExcluirQuero esse amigo. Kkkkk sensacional a experiência e o seu compartilhamento.
ResponderExcluirkkk que bom que gostou!!
ExcluirAdorei o artigo. Sua comparacao com a estopa=vinho jovem e papel japones=vinho antigo é corretissima. Consegui bem sentir o gosto. Tive o prazer de compartlhar com voce, varias garrafas de Tolaji Aszu 6 puttonys 1993 . O aroma ou perfume é inesquecivel. !!!
ResponderExcluirExcelente compartilhar neste blog esta rara oportunidade.
ResponderExcluirque bom que gostou!!
ExcluirInteressante o artigo. Não tinha ideia que o vinho envelhecido se distancia em sabor e aromas de suas safras recentes.
ResponderExcluir:-)
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