O sucesso dos vinhos chilenos

RBG Vinhos

Por Ricardo Bohn Gonçalves


Tive acesso recente aos últimos dados da Wines of Chile, a associação que representa as vinícolas do país andino. Não é novidade que o Brasil é um mercado importante para os nossos quase vizinhos, mas as exportações chilenas para cá não param de crescer. Nos primeiros seis meses de 2024, comparado com o mesmo período do ano passado, as vendas das vinícolas do país para o Brasil aumentaram 16,75% em valor e 15,43% em volume. É um belo crescimento.

E isso me leva a comentar aqui das minhas impressões sobre os vinhos chilenos. É um país que elabora brancos e tintos que vem me surpreendendo e que são muito focados na exportação (mais de 70% de sua produção vai para o mercado externo). Têm a característica da maioria dos vinhedos ser plantado em pé franco, ou seja, direto na terra, sem a proteção de um porta-enxerto. Por proteções naturais, da imensa Cordilheira dos Andes de um lado e o Oceano Pacífico do outro, a filoxera não chegou aos vinhedos locais, o que não deixa de ser uma característica única do país.

Meu primeiro ponto é que, mesmo sendo um país que foca no estilo dos vinhos de Bordeaux – os seus grandes cabernets sauvignon são o melhor exemplo disso –, o Chile consegue imprimir a sua própria identidade em seus tintos e brancos.

E não falo apenas da cabernet sauvignon ou da carménère, a variedade de Bordeaux que foi redescoberta em seus vinhedos, depois de ter sido confundida com a merlot por muito tempo. E que logo se tornou a sua uva emblemática. Aliás, neste ano se comemora 30 anos que o ampelógrafo francês Jean-Michel Boursiquot identificou a carménère nos vinhedos de merlot da Viña Carmen.

Falo dos brancos e tintos que venho provando recentemente. Um dos projetos que me atraiu é o Garage Wines, com vinhedos antigos no vale de Maule, ao sul de Santiago. Gosto do trabalho com variedades menos famosas, como a carignan e a garnacha, uvas de origem espanhola e que estão revelando a sua boa adaptação aos vinhedos da região.

E acho que todos nós precisamos dar uma chance a variedade país. Muito bem adaptada aos vinhedos chilenos, esta uva dá origens a vinhos mais leves, muitas vezes rústicos, porém gostosos de beber. São também tintos que trazem um pouco da história do Chile, desde a chegada dos espanhóis.

E até mesmo a pinot noir – e vocês conhecem a minha paixão pela Borgonha – tem me surpreendido em terroir chileno. Seus enólogos e produtores procuram uma identidade com a variedade. Sabem que não vão imitar o perfil do vinho na Borgonha, mas têm conseguido bons resultados em sua maneira de interpretar o potencial da pinotnoir. Um exemplo é o projeto da vinícola Falernia com esta uva, como o Falernia Pinot Noir Aaron Gran Reserva Single Vineyard 2019.

Os brancos também vêm chamando a minha atenção. Gosto muito de alguns chardonnays do país, principalmente aqueles com os vinhedos mais próximos do Pacífico. Os ventos frios do oceano criam alguns microclimas muito especiais para o lento amadurecimento das variedades brancas. E, em provas às cegas, são rótulos que vem conquistando os consumidores. E tem também a sauvignon blanc: não raro, os brancos elaborados com a variedade são o casamento perfeito com a diversidade de frutos do mar locais.

Ou seja, não é à toa este crescimento das exportações de vinhos chileno para o Brasil.

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