
Por Ricardo Bohn Gonçalves
Uma bola de cristal nunca foi tão útil no nosso mercado do vinho como agora. Nas últimas três semanas, tenho pensado em como abordar a questão dos impostos neste blog, mas as informações mudam a cada momento. Ainda em março, o presidente Donald Trump surpreendeu o mundo ao anunciar o aumento de 200% das alíquotas de importação dos vinhos europeus. Trump respondia a um aumento nos impostos do uísque americano pela Europa que, por sua vez, era uma resposta à taxação do aço.
De lá para cá, só aumentam as notícias (e os impostos) do plano de governo do presidente norte-americano. As mais recentes são de tarifas de 125% para a China, o que inviabiliza o comercio entre os dois países. E o mais interessante é a explicação para a nova tarifa: a falta de respeito que a China demonstrou aos mercados mundiais, como escreveu o presidente em suas mídias sociais.
Pelas notícias desta semana, o foco da briga é a China e, por enquanto, as empresas de bebidas dos demais países terão uma trégua temporária. É interessante notar que o vinho, mesmo sem querer, entrou no tema dos impostos. E isso porque é um produto importante para o comércio europeu, aliás, importante na cultura europeia. Gostaria que fosse também aqui no Brasil, mas aqui ainda estamos nos 2 litros por habitante por ano.
E a bola de cristal seria bem útil para entender, ao menos para a gente, o que vai acontecer com o mercado de vinho no Brasil. Da minha contribuição, o primeiro ponto é que o vinho vai continuar caro por aqui, mesmo se houver alguma mudança tarifária. Os Estados Unidos compram muito pouco vinhos brasileiros e nós também importamos poucas garrafas de lá. Ou seja, o vinho não deve entrar em nenhuma questão tarifária entre os dois países.
Mas eu acredito que estas questões tarifárias podem acelerar o acordo do Mercosul com a Comunidade Europeia, que estava andando bem devagar. Atualmente, os rótulos europeus pagam uma alíquota de importação de 27,5% para entrar no Brasil. Com o acordo, esta alíquota deixaria de existir, tornando o vinho europeu mais atrativo.
Se isso acontecer, acredito em uma reviravolta nas origens dos vinhos no nosso mercado. Atualmente, por acordos, os vinhos chilenos e argentinos, que ocupam o primeiro e o segundo lugares no ranking de importação de vinhos pelo Brasil não pagam os impostos de importação. Isso torna estes rótulos bem mais competitivos por aqui e ajudam a explicar a liderança de mercado.
Mas, sem bola de cristal, precisamos acompanhar o dia a dia destas notícias para saber quais os impactos que as alíquotas de Trump podem causar no mercado do vinho. Mas de uma coisa eu tenho certeza: o mercado vai mudar.
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