Os vinhos do fundo do mar

Crédito: Rubens Kato
Foto: Rubens Kato

Por Ricardo Bohn Gonçalves

As descobertas estão onde menos se esperam. Foi no resgate de garrafas de vinho e champanhe, que afundaram junto com seus navios e submarinos, que se descobriu que o fundo do mar pode ser benéfico para a bebida preferida de Bacco.

Desconheço os estudos que explicam o que faz o vinho envelhecer melhor no fundo do oceano. Certamente a pressão atmosférica, que é bem diferente da superfície, tem a sua importância neste processo. Um ambiente bem escuro, também influencia. E até a umidade dá a sua contribuição. Mas qual a importância destes fatores na evolução do vinho, eu não sei dizer.

O que sei é que estes vinhos tendem a envelhecer em um ritmo mais devagar e que ganham complexidade ao longo do tempo. Nas descrições de seus aromas e sabores, os especialistas sempre usam termos como complexidade, maior mineralidade e muitas camadas de sabores. Imagino que esta complexidade também aumente com o tempo em que as garrafas ficam submersas.

Crédito: Rubens Kato
Escrevo sobre isso porque nesta semana soube que uma vinícola brasileira, a pequena Vivente Vinhos Vivos, do Rio Grande do Sul, decidiu afundar cerca de 60 garrafas. O local escolhido foi a praia do Bonete, em Ilhabela, onde o Projeto A.Mar atua – a Vivente tem uma parceira com o restaurante Cais, em São Paulo, e com o A.Mar, que atua na valorização da pesca artesanal em comunidades tradicionais.

Talvez este lote seja o primeiro em que as garrafas de espumantes, aqui todas em magnum, fiquem em um fundo do mar de águas mais quente. Nos projetos que conheço, as garrafas ficam em mares ao redor da França e da Espanha, que imagino são bem mais gelados. É uma tendência que começou após os mergulhadores descobrirem as garrafas submersas em navios e a oferecerem estas garrafas para serem degustadas por especialistas.

Depois de um ano no fundo do mar, estas garrafas voltaram à superfície e foram degustadas em São Paulo por um grupo de sommeliers. Na proposta, a garrafa cheia de craca foi comparada com uma garrafa contendo o mesmo vinho, mas que ficou na superfície, as duas em tamanho Magnum (1,5 litro). Foi nesta comparação que os presentes apontaram a maior complexidade do vinho do fundo do mar.

A Vivente não é a primeira vinícola brasileira a fazer isso. Em 2016, a Miolo afundou um lote de 500 garrafas no mar da ilha de Ouessant, na França, onde ficou por um ano. E nos dois casos, a garrafa é bem cara, em valores a partir de R$ 3 mil. Mas quem já provou diz que vale a experiência!



Comentários

  1. Anônimo6/4/25

    Muito interessante Ricardo, tomara que vire tendência, assim, os preços tornar-se-ão mais acessíveis!

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  2. Vinicius Toledo6/4/25

    Bom dia Ricardo!
    Os gregos foram os primeiros a perceber o poder do mar sobre o vinho. Há 2.500 anos, na ilha grega de Chios, os moradores deixaram as uvas colhidas de molho no mar durante alguns dias, de modo a eliminar o véu fino que cobre a pele da uva, além de auxiliar na secagem das uvas, acreditava-se também que esta técnica ajudava a realçar as características aromáticas e gustativas das castas utilizadas para produção do vinho.Na atualidade, uma descoberta foi crucial para que esta técnica voltasse a chamar a atenção dos profissionais da viticultura. Em 2010, mais de 100 garrafas de Champagne foram encontradas em um naufrágio, no fundo do Mar Báltico. Era um navio com destino à corte czarista em São Petersburgo em 1880, e estava carregado com garrafas preciosas.
    Alguns exemplos de vinícolas subaquáticas pelo mundo são: Bodega Crusoe Treasure, localizada na Baía de Plentzia em Bilbao-Bizkaia, Espanha, a primeira vinícola submarina-recife artificial do mundo, com mais de 12 anos de experiência em pesquisa subaquática do mundo; na parte sul da Croácia, na Península de Peljesac, uma vinícola está levando seus vinhos a 25 metros abaixo da superfície do Mar Mediterrâneo. O Enólogo e mergulhador que armazena seus vinhos por 18 meses no oceano, quando questionado, porquê debaixo d’água? Argumenta: “o silêncio do oceano concede e abençoa o vinho com uma riqueza diferente de tudo o que se encontra acima do solo”.
    Santa Catarina também tem vinho do fundo do mar. A Vinícola Fama, de São Joaquim, na Serra Catarinense, e a Videiras Carraro, de Bento Gonçalves, na Serra gaúcha, que mergulharam seus vinhos por 12 meses, a doze metros de profundidade, dentro de gaiolas. A cada 60 dias foram feitas análises laboratoriais físicas e químicas para verificar a evolução e o processo de envelhecimento.

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  3. mauricio6/4/25

    Será que a degustação foi às cegas? Tenho muitas dúvidas sobre essa supremacia em relação a vinhos bem conservados em adegas tradicionais. Creio que virou forte apelo de marketing, mas vou aguardar até termos mais informações claras e transparentes de gente idônea e imparcial. Quem pagou R$ 3 mil numa garrafa que vale R$ 300 sempre vai dizer que o vinho ficou maravilhoso e melhor, caso contrário seria reconhecer que caiu num engôdo.

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  4. Anônimo7/4/25

    Penso que o mar é ambiente para a natureza.

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