As semelhanças entre o Vinho e a Arte

Vincent Van Gogh - The Drinkers - Art Institute of Chicago

Por Ricardo Bohn Gonçalves


Não vou defender aqui que o vinho é uma obra de arte – por mais que alguns brancos e tintos possam assim ser definidos... Digo apenas que os dois temas são passíveis de paixão e que eu tenho o privilégio, ao menos na minha modesta opinião, de gostar muito dos dois.

Como disse, vinho e arte, na certa, são temas passíveis de paixão. Claro que não são os únicos – há aqueles apaixonados por carros, por charutos, por livros... Mas são dois temas que permitem muitas comparações.

Os dois tendem a ter colecionadores – acho que o homem coleciona arte desde as primeiras pinturas rupestres, nas cavernas. Atualmente, há pessoas que investem em adegas enormes, que talvez nunca consigam beber todas as garrafas durante toda a sua vida. Assim como há colecionadores de arte que nem conseguem apreciar todos os seus quadros e esculturas que tiveram a oportunidade de adquirir.

Como uma vez ouvi de um psicanalista: “quem tem tudo, não tem nada...”. Uma coleção de vinhos, de arte ou qualquer outra, quando entesourada, fica sem valor. Precisa ser vivida.

Vinho e arte também se moldam no prazer de compartilhar. Eu tenho uma amiga, a Vilma Eid, que abriu ao grande público sua coleção de obras de arte em uma exposição realizada pelo Instituto Tomie Ohtake.

Para ela, chegou o momento de dividir com as pessoas. Tenho a honra de ser amigo da família e, assim como ela é generosa com a arte, seu irmão, meu grande amigo de copo e mesa, é super generoso com seus vinhos.

Assim como ele, todos os meus amigos do vinho têm essa característica de generosidade, servindo seus melhores rótulos, compartilhando emoções, que são até mais importantes do que as notas de degustação propriamente ditas. E os melhores vinhos que eu já provei – e confesso que já bebi muita coisa boa – foram com esse espírito de cada um oferecer o que tem de melhor.

Por outro lado, a arte e o vinho carregam um status que muitas vezes me incomoda. Não gosto daquela pessoa que se vangloria de ter uma obra específica, assim como daquele que se orgulha de ter uma garrafa ícone. Comentar é uma coisa, dividir a aventura de como conseguiu a garrafa ou o quadro também é interessante, mas ter estes objetos por status eu acho chato.

Outro ponto em comum é que as duas atividades são prazerosas. Apreciar uma obra de arte ou um vinho é como se entrássemos em outro mundo, como se ativássemos outros sentidos. São prazeres genuínos.

Ambas as paixões também exigem prática. É preciso se aprofundar, observar, provar, estudar. Leva tempo para formar um repertório próprio, que se amplia com a vivência destas duas paixões. É um caminho sem volta, e muito gostoso.

Vinho e arte também permitem uma reflexão, que sempre me vejo pensando: gosto realmente ou há influência cultural? É uma coisa que fomos educados a gostar ou é algo genuíno? A pergunta que faço a mim mesmo: eu gosto de Van Gogh porque eu gosto ou porque fui ensinado a gostar? A mesma coisa com o Romanée-Conti, o exemplar máximo dos vinhos da Borgonha. Eu gosto deste pinot noir porque realmente gosto ou porque fui ensinado a apreciar? Prefiro pensar que gosto genuinamente.

E são dois assuntos que geram muitas conversas, na maioria das vezes ligadas ao prazer e às amizades. E, você, concorda comigo?