
Por Ricardo Bohn Gonçalves
Não bastasse Portugal ser o maior consumidor per capita de vinhos do mundo – pelo último relatório da OIV, a organização da Uva e do Vinho, o país consome 61,7 litros de vinho por habitante maior de 18 anos por ano – , a impressão nestes dias é que os brancos, os tintos e os fortificados portugueses estão invadindo também o Brasil. Exageros à parte, o fato é que muitos produtores aproveitam para vir para cá nesta época do ano, quando a agenda nas vinícolas está mais tranquila (podas e blends já foram feitos e ainda não é hora da colheita) e quando o inverno ameaça chegar no Brasil, aumentando o consumo de vinhos.
A presença destes produtores por aqui é uma maneira de se atualizar sobre a produção do país, que vem melhorando de qualidade a cada safra. E de desfrutar da simpatia dos portugueses. Há uma irmandade entre os brasileiros e os portugueses, talvez pela língua, talvez pela nossa história. Mas o fato é que sempre fui muito bem recebido nas minhas diversas viagens pelas suas regiões vinícolas do país.
A presença dos produtores por aqui é também uma oportunidade de conversar com eles e, claro, provar bons vinhos de estilos diversos. E diversidade é uma das vocações portuguesas, primeiro pela enorme quantidade de variedades autóctones. Nas estatísticas, o país só perde para Itália na quantidade de uvas originárias do país. São mais de 200, de nomes conhecidos dos brasileiros, como touriga nacional, aragonês ou trincadeira, e outros no mínimo divertidos, como rabo de ovelha e uva-cão, entre outros.
A diversidade também se revela nas suas regiões vinícolas, todas com a sua própria personalidade, mesmo em um país de pequena extensão territorial. Cada região tem o seu estilo, as suas uvas, os seus encantos. Acredito que o Douro, ao norte do país, seja a região de maior prestígio no país, primeiro pelos seus vinhos do Porto, fortificados que são uma riqueza única e que me emocionam sempre. Ainda mais agora com a tendência de elaborar vinhos do Porto de muita idade, os de 50 anos, de 80 anos, sempre com uma complexidade ímpar na taça. E há também os vinhos do Douro, os chamados DOC Douro, que são os brancos e, principalmente, os tintos secos, que não são fortificados.
Outros tintos e brancos que me agradam muito são os do Dão. São de uma delicadeza e uma complexidade únicas. E contrastam com a potência e os vinhos sempre muito frutados do Alentejo, aqui também nos seus brancos e tintos. E aproveito aqui para um parêntese: o Pera Manca é o rótulo mais valorizado do Alentejo no Brasil e é mesmo um tinto de muita complexidade. Mas sempre convido os amigos a darem uma chance para o Pera Manca Branco, que tem um preço muito mais agradável do que o tinto, e que é também muito bem elaborado.
Das demais regiões produtoras, só é difícil falar de Vinhos Verdes nesta semana em que o inverno parece ter chegado nas regiões Sul e Sudeste – prometo escrever em breve de brancos para o inverno. Mas os Vinhos Verdes, ou o Minho, como também é chamado, é uma região que faz vinhos que a cada safra me encantam mais. São brancos leves, com baixo teor alcoólico, e aromas frutados e florais na medida, sem exageros.
De Portugal, só faço uma crítica, ou melhor, uma observação: o país tem elaborado vinhos ícones de muita qualidade, mas vem exagerando um tanto nos preços praticados.
Concordo com você Ricardo, quando diz que Portugal tem elaborado vinhos ícones de muita qualidade, mas vem exagerando um pouco (ou muito), nos preços praticados. Imagine um Barca Velha 2015 chegar a custar 12 mil reais no mercado brasileiro, será que vale tudo isso?
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