O que garimpar na lista da Wine Spectator

Por Ricardo Bohn Gonçalves


Há rankings que impressionam. Um deles é o do revista norte-americana Wine Spectator, que todos os anos publica uma relação dos 100 melhores vinhos do ano. Em 2024, o vencedor foi um rótulo bem conhecido dos brasileiros, o Don Melchor, da safra de 2021, uma vinícola que eu tive a oportunidade de visitar quando ainda me atrevia pelo mundo do jornalismo.

E aqui vale um parêntese: no começo da revista Prazeres da Mesa, antes de passar a vender vinhos pela RBG, eu participava do time de degustadores da publicação, escrevia alguns textos destas provas às cegas e fazia algumas reportagens especiais. Uma delas foi a visita ao Don Melchor, em Puente Alto, no Chile, que na época ainda era a marca premium da Concha y Toro. Alguns anos atrás, a CYT decidiu transformar a Don Melchor em uma vinícola autônoma de sua propriedade. E manteve Enrique Tirado como enólogo principal e atualmente como seu principal executivo também.

Mas voltando à revista norte-americana. O Don Melchor está comemorando a conquista do primeiro lugar – eu, aliás, faria o mesmo, festejaria o prêmio. E organizou um evento importante em São Paulo para marcar o feito e também para lançar a nova safra de 2022. Quem participou conta que foi uma super apresentação, com direito a imagens impressionantes em uma enorme tela e com o jantar de uma mesa única para 70 pessoas, baseada na chamada gastro-performance, na qual os pratos não são apenas saborosos, mas passam uma “performance”. Um exemplo foi um patê em formado de pedra, que era uma referência ao terroir deste grande cabernet sauvignon chileno.

As notícias desde evento me levaram a rever a lista da Wine Spectator. Como publicação norte-americana, a maioria dos vinhos premiados são elaborados no próprio Estados Unidos e nem todos chegam ao Brasil. Mas, nos rótulos internacionais, vários deles chegam ao mercado brasileiro e nós, da RBG Vinhos, já trabalhamos com alguns deles.

Além do Don Melchor, são exemplos o Tiagnello 2021, que encantou os degustadores da revista e também muitos dos brasileiros. O tinto da Toscana ficou em terceiro lugar nesta safra que marca o 50º. aniversário do vinho, uma criação de Piero Antinori, com Giacomo Tachis, uma lenda entre os enólogos italianos. Segundo a revista, Renzo Cotarella, atual CEO e enólogo-chefe da vinícola, declarou que 2021foi a sua melhor safra.

Outro tinto que faz sucesso por aqui ficou em sétimo lugar na lista. É o Châteauneuf-du-pape La Crau 2020, da Domaine du Vieux Telégrafe. Um belo exemplar do Rhone Sul, que nasce no planalto de La Crau, conhecido por seu terroir de pedras redondas. Suas uvas vêem de vinhas entre 60 e 100 anos e pertence a família Brunier, atualmente na sua sexta geração. E, em nono lugar está mais um italiano, o barolo Albe, da G.D. Vajra, que a revista considera o rótulo que melhor representa o estilo elegante da vinícola, com preço atraente.

Imagem: Wine Spectator

A lista dos 10 mais inclui ainda o Beaulieu Vineyard BV Georges de Latour Private Reserve Cabernet Sauvignon, do Napa Valley, em segundo lugar; o Faust Cabernet Sauvignon, em quarto; e o Chimney Rock Cabernet Sauvignon, em quinto, todos eles do Napa Valley. Em sexto está um tinto do Oregon, o Drouhin Oregon Rose Rock Pinot Noir; em oitavo, mais um pinot noir, porém da Califórnia, o Williams Selyem Pinot Noir. E, em décimo, o Ramey Chardonnay, de Russian River. Ou seja, o Top 10 tem seis rótulos elaborados nos Estados Unidos.

A revista explica que a seleção dos 100 mais é uma escolha dos seus editores para os lançamentos mais empolgantes analisados ​​no último ano. Em 2024, a revista degustou às cegas quase 10.500 vinhos, dos quais 5.765 receberam 90 pontos ou mais. Este foi o ponto de partida para selecionar o Top 100, avaliado por qualidade (pela pontuação), valor (o preço no mercado dos EUA), disponibilidade de vinho no mercado do país. Há ainda o que os editores chamam de fator X, que é a energia e a história por trás do vinho.