O Sul do Chile em destaque

RBG Vinhos
Foto: Revista Adega

Por Ricardo Bohn Gonçalves

O enólogo chileno Francisco Baettig passou por São Paulo nesta semana para apresentar a safra 2024 dos seus vinhos. São dois pinots noir e dois chardonnays elaborados em Traigen, no sul do Chile, e também um cabernet sauvignon, no vale de Maule, este de vinhas bem antigas. São todos batizados com termos de familiares – Los Primos, Los Parientes, dos rótulos de Traigen, e Los Compadres e Los Padrinos, do Maule.

Baettig é daqueles personagens que dispensam apresentação para quem acompanha os vinhos chilenos – foi eleito por quatro vezes o enólogo do ano, por exemplo, em 2011, 2017, 2018 e 2020. Antes de se dedicar a seus próprios vinhos – a primeira safra da Viña Baettig a chegar no mercado foi a de 2017, lançada em 2020 – , ele trabalhou por décadas para o Eduardo Chadwick e foi o responsável por rótulos como Seña, Viñedo Chadwick, entre outros brancos e tintos deste produtor. Atualmente, Baettig segue como consultor da família Chadwick e de outras duas vinícolas chilenas, mas foca principalmente em seu projeto próprio.

E isso nos leva a questionar porque ele decidiu não apenas trocar a segurança de um emprego remunerado para se lançar em voo solo, ainda mais em um vinhedo tão distante – são quase 700 quilômetros entre os vinhedos e sua casa, em uma rota que, não raro, ele faz, ida e volta, em um único dia. Baettig diz que ter um vinhedo para chamar de seu foi um sonho, mas a escolha do lugar tem a ver com o seu terroir. Seja o solo, de argila e, na profundidade, com pedras vulcânicas, seja o clima, com mais chuva do que as zona vitivinícolas dos demais vales chilenos. O aquecimento global está aí, diz ele.

A região de Traigen começou a ser conhecida pelo projeto Sol de Sol, da Viña Aquitânea, que eu acompanho de perto desde o seu lançamento. Felipe de Solminihac, um dos quatro fundadores da vinícola, foi um dos primeiros a apostar na região, que conhecia desde menino porque sua família era de lá. E convenceu os seus sócios, todosfranceses, a fazer um vinhedo experimental por lá, mesmo focando principalmente no vale de Maipo. Na época, pouco se falava de aquecimento global ou mudança climática. A ideia era encontrar um terroir propenso a variedades tintas de ciclo curto, como a pinot noir, e mostrar que o Chile também poderia ter brancos de maior qualidade do que aqueles chardonnays pesados do Vale Central.

A aposta deu certo e o sul do Chile é reconhecido pela qualidade de seus pinot noir e Chardonnay e, no caso da Sol de Sol, também no sauvignon blanc. Mas Traigen não explodiu na quantidade de vinhedos. A distância de Santiago, acredito, é a principal razão. Por mais que seus vinhos se destaquem, em uma qualidade que vem crescendo com o envelhecimento das vinhas.

O meu conselho é prestar atenção nesta região – está certo que depois de Traigen, os produtores chilenos descobriram novos vales, como o de Limari, ao norte, que também tem vocação para os brancos de maior frescor e elegância. Mas Traigen segue como uma região de bons vinhos, mesmo com a distância dos centros consumidores. E a curiosidade me faz provar, sempre, os vinhos desta região ao sul do Chile e tambémaqueles elaborados no sul da Argentina. Mas vou deixar os malbecs de Patagonia argentina para um próximo artigo.

Comentários

  1. Vinicius Toledo6/7/25

    Ricardo acredito que esse texto é mais do que oportuno. Baettig é, sem dúvida, um grande enólogo, já provei seus vinhos, são realmente empolgantes. Todos os amantes de vinhos de qualidade neste país deveriam buscar seus vinhos e isso enquanto eles ainda chegam para nós!

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