Por Ricardo Bohn Gonçalves
Começo este texto com a certeza de que muitos produtores vão discordar do título acima. Mas, para vocês, leitores, é uma boa notícia o que está acontecendo com os preços dos vinhos praticados na Place de Bordeaux. Eles estão em queda e, melhor, em uma redução bem significativa. Na prática significa que muitos dos grandes vinhos devem chegar ao Brasil com um preço menor.
O lançamento da nova safra do chileno Almaviva só confirma esta tendência. No início de setembro, a safra 2023 deste ícone chileno foi apresentada na Place de Bordeaux por 75 euros a garrafa. No ano anterior, no lançamento da safra de 2022, o valor da garrafa foi de 115 euros. Uma redução e tanto. O Seña, apresentado dias depois, seguiu a tendência: dos 98 euros do ano passado, passou para 58 euros.
Há uma explicação para esta queda de preços. Primeiro, os chineses, que eram os grandes compradores e que inflacionaram muito os valores, saíram de cena. Desde o período da pandemia, que os chineses vêm reduzindo muito a compra e o consumo de vinhos, com destaque para os rótulos mais caros, no qual Bordeaux é um dos melhores exemplos. Aos chineses, soma-se todos os reflexos dos aumentos de tarifas dos Estados Unidos. Para a Europa, por enquanto, as tarifas para exportar para os EUA aumentaram15%, o que tem um impacto significativo nos vinhos mais caros. Além disso, são vinhos que, mesmo apresentados agora, ainda demoram para chegar ao mercado e estão, portanto, sujeitos a eventuais outras medidas econômicas futuras.
Os reflexos chegaram à Place de Bordeaux, que na verdade nem uma praça é. A Place é um sistema de comercialização, em que os negociantes de Bordeaux compram os vinhos direto dos châteaux e os revendem mundo afora, sem qualquer exclusividade de comercialização. No início, apenas os grandes rótulos de Bordeaux eram negociados por lá. Mas em 1998, o próprio Almaviva, que nasceu da joint-venture entre o francês Château Mouton-Rothschild e a gigante chilena Concha y Toro, se tornou o primeiro “intruso” da Place. Atualmente, dezenas de rótulos conceituados mundo a fora são vendidos pelos negociantes.
Normalmente, os vinhos franceses são apresentados em abril para os negociantes e os rótulos não-bordaleses são lançados em setembro. Em abril deste ano, o Château Lafite Rothschild lançou a safra 2023 por 396 euros, uma redução de 31,7% em relação a 2022. O Monton Rothschild, por sua vez, anunciou uma queda de 34,6%, com cada garrafa por 324 euros.
A questão é saber se esta redução de preços é mesmo uma tendência e qual será a queda até os preços estarem ajustados ao mercado. Por enquanto, como consumidores, agradecemos.
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