Um jantar para ficar na lembrança



Por Ricardo Bohn Gonçalves

Escrevo ainda emocionado com o jantar que realizamos no restaurante La Casserole na semana passada com os vinhos da La Rioja Alta. A ideia do evento nasceu da vontade de homenagear uma amiga querida, a Marie France Henry, que brilha à frente de um restaurante de cardápio francês que completou 70 anos no mesmo endereço: o tradicional largo do Arouche, na região central de São Paulo. E de dividir com amigos queridos vinhos que eu tanto gosto – não é à toa que a RBG Vinhos se tornou embaixadora desta vinícola espanhola. Seus vinhos me acompanham desde quando eu era apenas um apreciador de brancos e tintos nos meus momentos de lazer.

Minha emoção começa – e, aqui, acho que os demais pais vão entender – porque o evento foi todo idealizado e realizado pela minha filha Silvia, com a parceira inestimável da Marie. Foi a Silvia que pensou no restaurante, que teve a ideia de ter um vinho secreto no menu e tudo o mais. E a Marie cuidou do salão com todo o capricho, com aqueles detalhes, da flor na mesa à decoração para que cada comensal se sentisse especial. E as duas contaram também com a parceria e a cumplicidade do maître Sergio Marques da Silva, do sommelier Jones Pereira Alves e do garçom Moises de Souza e Silva e, claro, de toda a equipe do La Casserole sempre comandada pelo incansável Léo filho de Marie que não deixou a peteca cair em nenhum momento.

O vinho secreto foi o Viña Alberdi Reserva 2019, um tinto elaborado apenas com a tempranillo e que passa dois anos amadurecendo em barrica de carvalho. É um tinto que eu acompanho há mais de 40 anos, quando entrei no mundo do vinho. E percebo como sua qualidade é sempre presente, safra após safra. Pode-se até dizer que ele está um pouco mais moderno, mas mantém o seu estilo, a sua profundidade. E que harmonizou muito bem com o ragu de cordeiro, com molho demi-glace e cuscuz marroquino de legumes.

Devo dizer que o meu papel se limitou a apresentar os vinhos e circular, de mesa em mesa, comentando as harmonizações e contando histórias em um salão lotado. Quem me conhece, sabe que eu não gosto daquelas palestras tradicionais, em que o profissional fica explicando o vinho de uma maneira mais técnica. Quer dizer, não é que eu não goste, porque sempre aprendemos nesta ocasião, mas o meu perfil é apresentar os vinhos de maneira mais descontraída. E, para isso, eu fico rodando entre as mesas, conversando com os presentes, trazendo histórias do vinho, dos seus aromas, do seu redor.

E como o nosso jantar foi em um restaurante que eu acompanho a história há algumas décadas, também aproveitei para falar da casa, que passou por uma reforma recente com o objetivo de se modernizar, mas sem se modernizar, ou seja, mantendo a sua história, a sua tradição.

E aqui conto apenas uma história: nesta reforma, a ideia era manter o painel enorme da Catedral Notre Dame, que marca o salão do La Casserole, e que foi tirada de uma das janelas do restaurante a Tour D’Argent, um clássico francês que fica ao lado da igreja. A foto já estava bem antiga e precisava de outra. Marie teve a ideia de ligar para o restaurante, contar a sua história e de que janela a foto foi tirada, e pedir autorização para uma nova foto. O restaurante lhe permitiu repetir a foto. Marie contratou um fotógrafo especialmente para isso e a nova foto hoje decora o espaço.

São estas histórias que me emocionam e que eu contei para os presentes, que tinha muitos de nossos clientes tradicionais bem como vários novos que vieram pela primeira vez. E tudo isso nos deixou com vontade de fazer novos eventos assim em 2026.





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