Carta ao Papai Noel

RBG Vinhos

Por Ricardo Bohn Gonçalves


As cartinhas para o Papai Noel, aqui entre os Bohn Gonçalves, só são escritas pela minha neta Antonela. Acho que já passei da idade de fazer pedidos para o bom velhinho. Mas se o Papai Noel insistisse em me perguntar que vinho eu gostaria de ganhar neste Natal, certamente seria um borgonha branco. E diria, quer dizer, escreveria, que ele pode escolher o produtor.

Todos sabem que eu sou um apreciador dos vinhos desta região francesa e é difícil não pedir um presente que não seja de lá. Se não um branco, um tinto seria uma boa lembrança natalina. Se o velhinho me pedisse uma opção fora da Borgonha, alegando que minha adega deve ter (e realmente tem) boas opções da região, eu iria para um belo riesling da Alsácia ou da Alemanha. Também colocaria na lista um champanhe, que é sempre um bom presente, assim como um tokaji de alguns puttonyos, para as melhores sobremesas.

Mas eu diria mesmo para o Papai Noel que o meu pedido não é pelo melhor vinho do mundo neste Natal. Vocês podem me achar piegas, mas eu gostaria de pedir que o vinho deixasse de ser classificado, ou melhor, valorizado como um produto luxuoso. Garrafas que, por melhor que seja o líquido que armazenam, não podem custar 10 mil euros, 20 mil euros ou mais. É um super luxo – ou seria super ostentação – que me incomoda cada vez mais, conforme os preços vão indo à estratosfera.

Nesta mesma linha, gostaria que o vinho tivesse no Brasil o mesmo status com que é tratado nos países grandes produtores desta bebida. Sei que o vinho não faz parte da nossa cultura, mas gostaria que fizesse. Que tivesse sentido uma legislação aqui que considerasse o vinho como um alimento, como acontece na Espanha, por exemplo. Ou que o vinho fosse tratado pelo governo brasileiro da mesma maneira que é tratado pelos presidentes franceses – está aí um exemplo de país que sabe defender como poucos a sua agricultura.

E peço isso ao bom velhinho porque, nestes mais de 40 anos no mundo do vinho, eu fui colecionando histórias e amigos ao redor de uma taça. Fui aprendendo e, principalmente, valorizando o vinho como uma bebida coletiva, fui lapidando o meu prazer de dividir uma taça com pessoas queridas e até com aqueles que eu só conheci porque tinha uma ligação ou uma curiosidade pela bebida do deus pagão Baco.

Se o Natal é uma noite de comunhão, nada melhor do que dividir uma taça de um bom vinho com as pessoas que a gente gosta. É esse o meu pedido para a data: que todos vocês, que me acompanham aqui neste espaço, encontrem embaixo da árvore de Natal uma garrafa de um vinho que lhe dê prazer e vontade de brindar com as pessoas queridas a seu redor.


Feliz Natal e que 2026 seja um ano de muita paz.


Ah! Aproveitei para pedir ao Papai Noel um pequeno descanso e volto a escrever este blog em janeiro.

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