O ícone português

RBG Vinhos
Por Ricardo Bohn Gonçalves
 

Hoje eu quero contar para vocês sobre o Barca Velha, acho que o maior ícone entre os vinhos de Portugal. Em meados de junho, eu tive a oportunidade de participar do lançamento da safra de 2015 deste vinho aqui em São Paulo. Realizado na elegante sede paulista do Iate Clube de Santos, o evento contou com a presença de Fernando Guedes, o presidente da Sogrape, que é a dona da Casa Ferrerinha, vinícola que elabora o vinho, e do enólogo Luís Sottomayor, que tem a difícil missão de definir se o tinto será Barca Velha ou Reserva Especial. Foi também a minha última degustação com o Ricardo Castilho, que nos deixou na semana seguinte ao evento.

Luís Sottomayor
O enólogo Luís Sottomayor explica a história do Barca Velha


Mais: o lançamento no Brasil foi a segunda apresentação oficial do 2015, a 21ª. safra desde vinho. E aconteceu aqui duas semanas depois de Portugal. A paixão do brasileiro pelo vinho explica este lugar de destaque no seu lançamento. E o evento trazia a importância do vinho, desde violinos para receber os convidados, uma sala especialmente decorada para a degustação e um menu harmonizado com receitas do chef Marcelo Correa Bastos, do restaurante Jiquitaia.

O Barca Velha surgiu em 1952, em um ato de muita ousadia do enólogo Fernando Nicolau de Almeida e é elaborado apenas em anos especiais pela Casa Ferreirinha, no Douro Superior. No início, como não havia eletricidade no interior de Portugal, o enólogo mandava trazer barras e mais barras de gelo até a vinícola, localizada quase na fronteira com a Espanha, para controlar a sua temperatura de fermentação. E este é apenas um dos lances da ousadia de elaborar, então, um tinto em uma região que brilhava apenas pelos seus vinhos fortificados.

Rigoroso, Almeida definia a cada safra se o tinto tinha a complexidade ou não para ser um Barca Velha, o que não acontecia todos os anos. E até hoje é assim. Se o tinto demostra ter qualidade para um Barca Velha, ele é engarrafado depois de um estágio de 12 meses em barricas de carvalho. Sua evolução é acompanhada por degustações. Quando a conclusão é que o tinto não atingirá a qualidade do Barca Velha, ele é desclassificado e é engarrafado como Reserva Especial. Não era e até hoje não é uma decisão fácil, até porque uma garrafa de Barca Velha é vendida na casa dos R$ 11 mil e uma de Reserva Especial, por menos de metade deste valor. Mas até hoje é uma decisão do enólogo, que não tem a interferência do departamento comercial da Casa Ferreirinha.

Ricardo Castilho, Ricardo Bohn Gonçalves (com a taça), Danio Braga e Arthur Azevedo, no lançamento da safra 2015 do Barca Velha
Ricardo Castilho, Ricardo Bohn Gonçalves (com a taça), Danio Braga e Arthur Azevedo, no lançamento da safra 2015 do Barca Velha


A safra de 2014, por exemplo, não obteve a qualidade para um Barca Velha, mas é um belo Reserva Especial. Mas a de 2015, chegou lá. Ela traz novidades, como pela primeira vez a variedade sousão entra em seu blend, com 10%. Este Barca Velha é um corte de 43% de touriga franca, 40% de touriga nacional, 10% de sousão e 5% de tinto cão.

Na taça, como tive essa oportunidade de provar, é um tinto bem complexo. Jovem, ainda tem muitas notas de frutas vermelhas e negras, maduras na medida certa, traz notas floras, e taninos firmes e aveludados. Segue a tendência de chegar pronto para ser consumido, mas que também vai envelhecer muito bem com o tempo em garrafa. Como tem de ser em um vinho ícone.

Comentários

  1. Vinicius Toledo11/8/24

    A alguns anos atrás, entrei em uma loja de bebidas e comprei um whisky single malt de um valor relativamente alto aí, o vendedor percebeu uma oportunidade de se livrar de uma garrafa de vinho que estava lá sobrando e quando dei por mim, ele me chamou e perguntou, o senhor não gostaria de levar essa garrafa de Barca Velha e abriu uma gaveta qualquer e me mostrou a garrafa, para a época ele quis cobrar 900 reais, o que seria uma excelente barganha, mas recusei, principalmente pelo desrespeito da loja por um vinho ícone como este; deixá-lo balançando dentro de uma gaveta qualquer e sendo mantido numa temperatura inadequada, me pareceu até ofensivo, mas me controlei e não briguei com o funcionário, pois o rapaz era apenas um empregado da loja e eu já estava com uma certa pressa de sair.

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